Mas há muitos casos em que o adulto que ficou com as crianças dificulta as visitas ou inventa mentiras o ex-companheiro. Isso se chama alienação parental. Este ano, uma nova lei prevê punição para quem faz esse tipo de maldade - razão de muita tristeza para pais e filhos.
O sonho de um aposentado, que não pode ser identificado, é ter um encontro verdadeiro com dois filhos, um encontro de coração. Eles vivem no Rio de Janeiro, onde mora a ex-mulher. Ele fala que, com ela, os dois aprenderam a mágoa. Ainda crianças, ouviram mentiras que terminaram por criar uma distância enorme. “Eu sentia que eles queriam passear comigo, mas se eles chegassem felizes em casa, isso era motivo para a mãe castigá-los”, disse.
Muita gente já passou por esta mesma situação. Em 1985, o psiquiatra americano Richard Gardner definiu isso como doença, chamada de síndrome da alienação parental. O nome é complicado, mas simples de entender: é quando o filho sofre uma interferência na formação psicológica, uma espécie de lavagem cerebral, para que ele fique contra o pai ou a mãe.
Uma dor que não diminui com o tempo. Recentemente, a filha, de 31 anos, começou a se aproximar. “A minha filha está fazendo terapia, pois ela desconfiou que da visão passada pela mãe de que eu era um monstro. Ela está convencida agora de que eu não sou aquele bicho”, contou.
Já o filho, de 28 anos, continua distante. Ele diz que já fez de tudo, mas o rapaz, geralmente, evita o contato. “Ele não responde e-mail, não liga no Dia dos Pais”, falou. Uma luta de 30 anos. Mas ele não desiste desse amor. “Não existe ex-filho, nem ex-pai”, disse.
Há três anos e meio, os meninos decidiram que queriam morar com o pai e passaram a evitar aproximação com a mãe. Os encontros se tornaram obrigatórios, até que ela decidiu mudar a estratégia. “Fui pesquisar sobre problemas de família na internet e descobri a alienação. Passei isso para os meus advogados, pois muita gente não tem conhecimento sobre isso. Eu abri mão do encontro obrigatório, pois eu quero que eles venham me ver quando quiserem”, explicou.
A psicóloga e advogada Valéria Correia trabalha com mediação de conflitos de família e, desde 2007, estuda a síndrome da alienação parental, pais que usam filhos para se vingar de relações mal-sucedidas. Ela escreveu um livro sobre o assunto. “Essas crianças são vítimas de uma verdadeira lavagem cerebral, quando o pai ou a mãe começa a denegrir a imagem do outro. A criança pode ter depressão, dificuldade de socializar, se tornar introspectiva, agressiva”, explicou.
Desde 26 de agosto, a lei prevê punições para casos em que for constatada a alienação parental. “Pode ser advertência, multa, reversão da guarda, até mesmo a perda do poder familiar. É preciso uma equipe multidisciplinar para atestar e cita as punições”, disse.
“A alienação causa sofrimento para todos, principalmente para os filhos. Eles podem ficar com uma autoestima baixa, triste, isolados, ter dificuldades na escola, na saúde física, ficar agressivo. No futuro, eles podem ter depressão crônica, tentar suicídio ou tornarem-se dependentes químicos. A prevenção é importante. O casal tem que separar o que é do casal e o que é dos pais, pois todos os filhos têm o direito de ter uma referência parental. Se os pais não lidam bem com a separação, eles devem procurar ajuda e não usar os filhos para atingir uns aos outros”, explicou a terapeuta Virgínia Buarque.
O telefone da Clínica de Terapia Familiar é o (81) 2126 3692.
“A alienação parental é uma queixa que chega com frequência na Defensoria, principalmente nos processos de guarda ou divórcio. A comprovação da doença é subjetiva, mas podem ser conferidas durante os depoimentos dos envolvidos. O processo dura, em média, um ano”, disse a defensora pública Luana Melo.
Também eu falo do assunto.
ResponderExcluirPeço, aos interessados, que vejam o meu blog:
http://srevoredo.blogspot.com/?